sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Menina dos Rabiscos

A menina dos rabiscos terá sido enjaulada?

Não vejo outra explicação cabível pra tal visão que tenho.

Seus olhares entre as grades, seu sorriso depois da linha de partida...

Terá sido guardada a menina dos rabiscos?

Aprisionada?

Apreendida?

Ninguém conhece a história que fiquei de contar.

Mas posso assegurar dos muitos detalhes que guardei só pra mim.

Talvez não saia da mente e do coração, por ter sido enjaulada a menina.

O abraço foi embora e logo marcou hora pra voltar pros seus braços.

A menina dos rabiscos rabiscou o seu caminho, desenhou a porta aberta e demarcou seus passos.

Sai de cima do muro, menina!

Um dia você cai se o mundo se inclina!

Vê se não pula o portão, menina!

Rabisca pra ti uma chave, imagina!


Por Raphaela Dias

"Poetizei..."

Levei cerca de cinco minutos pra decidir em qual pedra sentar.

Olhando a paisagem ao redor, tirei da mochila o caderno amarelo,

Pensando que esse seria o mais bonito dos textos, regado de inspiração.


Deixei-me levar pelo barulho das ondas, fechei o caderno amarelo.

E sem mais nenhuma palavra, poetizei.



Por Raphaela Dias

sábado, 28 de janeiro de 2012

Dor de Travesseiro

Assisti de longe, mas não tão longe. Uma menina quieta, acuada no canto do quarto.

Parecia assustada, com medo. Tentei me aproximar pra entender o que havia.

Mas a menina não me permitiu nenhuma aproximação. Preferia ficar sozinha com sua dor.

Então resolvi que seria melhor respeitá-la. E me afastei.

E apesar de não entender muito bem o que acontecia, observava atenta.

Era difícil de ver também, já que a menina havia apagado a luz, justamente com a intenção de não ser vista. Entre o som dos poucos carros que passavam na rua e a televisão do vizinho, pude escutar breves momentos de soluços. Como se quisesse chorar escancaradamente, mas não pretendia chamar a atenção. E de tanto guardar o choro, tão sufocada, em um momento ou outro era possível ouvir seus gemidos.

Tentando engolir o choro e limpar as lágrimas, ela levantou e saiu do quarto. Eu não entendi o que ela pretendia fazer, mas logo me levantei para ver.

Antes mesmo que eu pudesse chegar tão perto, ela entrou no banheiro e se trancou. No primeiro momento eu fiquei ali, de pé na porta, sem saber o que fazer. Sem saber se era melhor esperar ou não. Mas depois de alguns minutos, resolvi voltar pro quarto e deixá-la sozinha. O que, na verdade, era o que ela queria desde o início. E que eu ainda não havia feito pelo tamanho da minha curiosidade.

Mas a minha curiosidade acabou virando preocupação. Afinal, ela estava sofrendo e parecia sofrer muito, e eu sequer conseguia ajudar. Já estava a tanto tempo trancada, sem emitir qualquer ruído, que resolvi quebrar meu sinal de respeito e voltei até a porta. Fiquei parada por algum tempo, esperando ouvir qualquer sinal de vida. Mas nada acontecia. Minha preocupação já era desespero naquele momento, mas continuava esperando. E ficava imaginando “ela vai sair a qualquer momento”... E nada.

Por fim, já não aguentava mais, resolvi bater na porta, uma batida só, de leve. Para que ela soubesse que estaria ali caso precisasse. E no momento que levantei a minha mão, antes mesmo de tocar, ouvi o barulho da porta destrancando.

Fiquei ali de mão estendida, preparada pra bater, e ela passou por mim, como se eu nem ali estivesse. Voltou pro quarto e deitou cobrindo- se completamente, da cabeça aos pés. E eu, imóvel, intacta... Desfiz vagarosamente meus movimentos e também voltei pro quarto. Àquela altura da madrugada, eu já não esperava que ela se virasse pra mim e contasse tudo num momento de desabafo. Imaginava que, um dia, ela estaria pronta pra me contar o que aconteceu. Não queria ser mais invasiva do que já havia sido.

A luz permaneceu apagada, o silêncio prevaleceu. E ela... Bem, ela continuava quieta, sem dividir com ninguém a sua dor.

Até o primeiro feixe de luz começar a clarear o quarto, vindo da janela, permanecia intocável.

E eu... Bem, eu continuava observando seus poucos gestos, suas muitas lágrimas, seu nenhum desabafar.

Depois de uma longa madrugada, que parecia interminável, meus olhos já cansados, aos poucos se rendiam. Tentando relutar, ficar abertos, atentos, mas já não conseguiam...

E fui pegando no sono devagar. E de olhos fechados, ainda ouvindo o som em volta, percebi em meio ao quase silêncio, um suspiro. Pesado, cansado, com rastros de dor. Abri os olhos lentamente e lá estava ela. De olhos tão molhados quanto seu travesseiro, tão fechados quanto sua boca. De aparência serena e perturbada. Como se, por algum momento, sua vida tivesse sido arrancada de si, e de repente, devolvida. Num só suspiro.

A noite passou sem que eu soubesse o que acontecera. O dia chegou sem que a menina me contasse uma só palavra. Mas eu estava aliviada por ela ter compartilhado comigo sua dor. E já estava totalmente conformada com o silêncio, quando de repente, numa única frase, balbuciada, explicou. Ela me olhou, como se quisesse o tempo todo falar sem conseguir. E eu permanecia olhando fixo nos seus olhos, pra que entendesse que eu esperaria o tempo que fosse preciso. Eu entendi tudo que havia acontecido durante toda a noite, só no seu olhar paralisado, como se tivesse me explicado por horas o que sentia. E sem que eu precisasse de qualquer esclarecimento, ela me disse: Não se leva embora de mim.

E eu entendi.

Também não disse nada. Não respondi, não contrariei. Permaneci quieta.

E num piscar de olhos, ela já não estava mais ali.

Estatelada, sentei na cama... E só consegui pronunciar algumas poucas palavras, no vazio do meu quarto. Percebi.

“Meu Deus... A menina era eu.”


Por Raphaela Dias

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Sonetos

Sonetos de noites sem sono.

Sem medo de soar seriamente insanos.

Saindo sem ensaios, insatisfeitos e insensatos...

Incentivando o que é insolúvel e incerto,



Inquieto,

Incrédulo,

Inverso,

Irremediável,

Inoportuno.

Sem graça, sem farsa...

Sonatas.

Por Raphaela Dias

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Carta à uma estrela...

Rio Bonito, 16 de Agosto de 2011.

Olá!

Nossa, faz tanto tempo que a gente não se fala!

Mas nem por isso deixei de falar contigo...

Saiba que estou morrendo de saudades!

Tenho tanta coisa pra te contar! Fiz um pijama de palhacinho, colei um adesivo enorme no meu violão (e outros menores), tô precisando expandir minha caixinha de coisas que eu guardo pra sempre, fiz umas músicas novas, vou ser madrinha de casamento, aprendi a mexer em programa de edição de imagem (bem... tô aprendendo!).

Ah... É tanta coisa pra te contar!

Mas acontece que, às vezes tenho a sensação de estar falando sozinha.

Não é culpa sua, me entenda, mas é que nem todas as noites são estreladas, nem sempre as nuvens se abrem pra gente se ver.

Muitas foram as vezes em que me deu uma vontade imensa de correr e te abraçar, mas nossos caminhos tomaram direções diferentes e, sem que a gente quisesse, a distância aconteceu.

Quero que saiba que nada mudou.

Não me esqueci do seu olhar, da sua risada, das suas palhaçadas, do seu jeito de me dar bronca...

Não me esqueci de nadinha!

Porque eu sei que, mesmo distante, você continua no meu coração, brilhando forte!

As coisas andam muito corridas por aqui, mas mesmo assim me lembro de você aí do outro lado.

Espero que um dia a gente possa se ver de novo, pra matar a saudade e botar o papo em dia.

Não esqueça que te amo muito!

Fica com Deus... A gente se fala!



Super beijo da amiga que te ama mesmos nas noites nubladas...

Saudades...







Por Raphaela Dias

Pra uma certa amiga estrelinha.

sábado, 6 de agosto de 2011

Mar de folhas secas

Eu sempre me perco quando te acho...
Na sua voz, no seu olhar...

Seu sorriso parece dizer:

Vem me ouvir! Vem falar!

Fico imaginando milhões de coisas e coisa alguma,

E tudo ao redor parece sumir.

Eu sempre me perco quando te acho, te ouço falar, te vejo sorrir...

Mas volto num instante, quando sua lágrima cai.

Me traz de volta num rompante de alguém que se distrai.

Pagaria pra não te ver chorar,
Choraria por um sorriso seu...
Trocaria minha noite pelo dia, pra sua eterna alegria, mais do que um pranto meu.

Não afogue seu sorriso pela mágoa que deixei.

Mas se lembre sem saudades dos dias em que errei.

Me recorde se preciso, pra nunca mais errar.

Me faz sentir no seu sorriso o dia em que eu te fiz chorar.

Me perdoa e me acha,

Me cobre de esperança.

Dorme antes que eu retorne, volta pro mar e descansa.





Por Raphaela Dias

Pra uma certa menina sereia...

sábado, 2 de julho de 2011

Bobisomem!

Naquelas noites, especialmente de lua cheia, ele aparecia...

Feroz e sagaz... Bastava anoitecer!

As nuvens aos poucos se afastavam deixando a lua iluminar o tom de suspense no ar.

Em meio aos cantos desafinados dos amantes bichanos nos muros e os roncos dos motores da madrugada, lá estava ele.

De olhar inquieto e aparência assustadora.

Amedrontava os que escutavam de longe seus uivos, que mais pareciam gargalhadas!

Diz a lenda, que não era apenas um típico peludo transformado pelo luar, como desses de filme de terror.

Tinha risada estranha, sarcástica e nariz de palhaço...

Espalhando terror, medo e sorrisos por onde passava...

Talvez o mais horripilante dos seres “imaginários reais”.

Era a criatura que, até hoje, só se conhece por Bobisomem!


Por Raphaela Dias